domingo, 30 de agosto de 2009

ORA (DIREIS) OUVIR ESTRELAS!

The Starry Night (1889) - Vincent Van Gogh


A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
E tu pisavas nos astros distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão.

Os versos acima são da belíssima música de Orestes Barbosa (1893/1966), a conhecida "Chão de Estrelas".

E volto ao assunto "em defesa do céu noturno e pelo direito à luz das estrelas", tema discutido pelos astrônomos reunidos em Assembléia Geral no Rio (Estadão - 14 de agosto). Os astrônomos afirmam que "um céu noturno não poluído, que permita a contemplação do firmamento, deve ser considerado um direito sociocultural e ambiental fundamental". E para defender esse direito criaram a Maratona Via Láctea. Nas próximas semanas vão promover encontros para o povo "medir e conhecer o impacto do excesso de luz na cidade em que vive". Os astrônomos constataram que há iluminação excessiva e sugerem "investimento no astroturismo e a racionalização da iluminação". Eles constataram que a poluição luminosa é fácil de combater e sugerem que sejam colocadas tiras de alumínio ao redor das lâmpadas dos postes para direcionar a luz para baixo. E citam como exemplo o que foi feito em um condomínio, em Friburgo, diminuindo em 50% o custo da iluminação. Também observam que no Chile já foi implantado o turismo astronômico, e com lucro.
A idéia é incentivar as pessoas a busca pelo céu estrelado.

Céu que Van Gogh pintou, em 1889. Lá está um céu turbulento, que ele chamou de "The Starry Night" -Noite Estrelada" - e foi pintado do asilo, em Saint-Remy (13 meses antes dele se suicidar, com 37 anos). Van Gogh pintou uma noite cujas estrelas ele não via.

Essa famosa tela serviu de inspiração para Josh Groban escrever a belíssima "Starry, Starry Night", cantada maravilhosamente bem por Don McLean ( Starry, starry night/paint your palette blue and grey/look out on a summer's day/with eyes that know the darkness in my soul/shadows on the hills/sketch the trees and daffodils/catch the breeze and the winter chills/in colours on the snowy linen land).

Alem de Van Gogh, há ainda os famosos versos de Olavo Bilac ( 1865/1918):

"Ora ( direis) ouvir estrelas?/ certo, perdeste o senso/ E eu vos direi, no entanto/ Que, para ouví-las/muitas vezes desperto/ E abro as janelas, palido de espanto".

Ou, Das Utopias, Mario Quintana: "Se as coisas são inatingíveis...ora!/Não é motivo para não querê-las.../Que tristes os caminhos, se não fora/ A presença distante das estrelas!"

Ah, as estrelas, assunto infindável!
"Vi uma estrela tão alta/Vi uma estrela tão fria", escreveu Bandeira...

Melhor parar por aqui. E ir à janela...olhar as estrelas.

sábado, 29 de agosto de 2009

REVELAÇÕES

foto: elaine borges
"A natureza não faz milagres; faz revelações." ( Carlos Drummond de Andrade )

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A PONTE APARECEU

foto: elaine borges
Quase meio-dia, e cá está ela, a Hercílio Luz, ainda com um pouquinho de neblina.

A PONTE SUMIU


foto: elaine borges
Cedinho, olhei através da janela, e não vi a ponte. Estava coberta pela neblina que cobriu a cidade. Aos poucos, ela foi aparecendo...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

EM DEFESA DO CÉU

foto: elaine borges
Li no Estadão (edição do dia 14 de agosto) uma resolução dos astrônomos "em defesa do céu noturno e pelo direito à luz das estrelas". A resolução foi lançada na 27ª Assembléia-Geral da União Astronômica Internacional, no Rio. O céu, para os astrônomos, é patrimônio da humanidade. Olhar estrelas, ver - por sorte - uma estrela cadente, a lua brilhando, são gestos tão simples, rotineiros, plenos de beleza. Basta levantar a cabeça e se deixar guiar pelo olhar. Mas um céu diurno, azul, com pequenos flocos de nuvens parecendo algodão, um pássaro aqui, outro acolá...também embelezam nossas vidas. Morando cá na Ilha, vendo tantos "céus" tão lindos, penso que somos ainda privilegiados. No entanto, sabe-se que, à noite, "mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo não enxergam mais a Via Láctea". Um dos motivos: poluição luminosa causada pela potência das lâmpadas. Antes, no Rio, cerca de 5 mil estrelas podiam ser observadas a olho nu. Calcula-se que hoje, com a poluição luminosa, apenas 150 podem ser observadas. Nós, felizmente, ainda podemos contemplar não só a luz das entrelas, mas também toda essa amplidão de um céu azul, enfeitado por nuvens.

domingo, 23 de agosto de 2009

O SABOR QUE VEM DO FRIO

foto: elaine borges
Quem não gosta de descascar uma laranja ou comer saborosos gomos de bergamota no inverno? E se for debaixo das laranjeiras ou bergamoteiras, melhor ainda. Esse pequeno prazer acompanha minha vida e, mesmo morando em apartamento, ainda me delicio com essas frutas que lembram frio, geada, vento, mas também calor, fogão à lenha, minuano, chaleira chiando no fogão... Hoje me contento em comê-las sentada na minha poltrona, recolhendo as cascas e as sementes em folhas de jornais. No meu baú de memórias guardo esses deliciosos momentos e mesmo em outro cenário, ainda sinto imenso prazer ao degustar essas frutas que vem do frio. São aquelas pequenas alegrias do cotidiano de todos nós.

A MÍDIA E O JOGO DE PODER


Celso Vicenzi é um competente jornalista e, recentemente, publicou no site ao qual colabora, uma relfexão sobre a credibilidade dos jornalistas que trascrevo abaixo. É uma boa reflexão sobre a nossa profissão.


A Credibilidade dos Jornalistas


Celso Vicenzi



Saiu há pouco o resultado de uma pesquisa que põe jornalistas, profissionais de marketing e publicitários entre as 10 profissões com maior índice de credibilidade no Brasil. Respectivamente na quinta, oitava e nona posições. A pesquisa foi realizada pelo grupo alemão Gfk, que ouviu 17 mil pessoas em 16 países europeus, nos EUA e no Brasil. No plano internacional, porém, as três profissões ocupam as 12ª, 13ª e 16ª posições. Talvez porque o povo, nesses países, tenha mais acesso à educação e, consequentemente, maior discernimento crítico.


Bombeiros, carteiros, médicos e professores de ensino fundamental e médio obtiveram os melhores índices. Vale lembrar que os políticos, sem nenhuma surpresa, ficaram em último lugar, com apenas 16% de credibilidade no Brasil e 18% internacionalmente. Não vou comentar sobre os profissionais de marketing e publicitários, pois temos ótimos colunistas aqui no “acontecendoaqui” para se ocupar dessa tarefa, se assim desejarem.


Meu foco são os jornalistas e o jornalismo, meu território há 35 anos. Há coisas boas e ruins para falar. Diante do enorme poder que a mídia exerce, hoje em dia, sobre a opinião pública, acho melhor alertar para alguns problemas. Falarei das virtudes em outra ocasião.


Parece-me que, apesar de não serem poucas as vezes em que nós jornalistas nos precipitamos e atropelamos os acontecimentos, pecamos pela falta de análise consistente, abusamos da superficialidade e não contextualizamos devidamente os fatos – para não falar daqueles que ideologicamente optam por desvirtuar, omitir e manipular informações – a população ainda têm nos olhado com confiança porque, num país em que os poderes públicos pouco fazem, perdidos em burocracias e lutas intestinas pelo poder, coube à mídia, no Brasil, à tarefa de responder minimamente às angústias do povo.


Um dos problemas é que, na ânsia de fazer justiça, os jornalistas, não raro, ultrapassam os limites da sua função e passam a proferir sentenças, sobretudo condenatórias, antes mesmo da Justiça se manifestar. Simples suspeitas viram manchetes de primeira página. E desmentidos, não raro, se escondem num pé de página. A mídia, que tanto se arvora no direito de a todos julgar, dedica-se muito pouco a admitir, publicamente, seus erros e os interesses que estão em jogo. E que não são poucos. Há uma corrida, cada vez maior, pelo que se denominou de “espetacularização” da notícia. Tudo vira espetáculo. Inclusive tragédias. E diante de um drama brutal que acaba de acontecer, com famílias chorando seus mortos, os jornalistas se acham no direito de fazer perguntas. Há uma invasão de privacidade. Há um despudor sem limites. Entra-se no cenário de um drama sem pedir licença à dor alheia. Há a busca insistente por imagens e depoimentos impactantes, que emocionem as multidões.

A MANIPULAÇÃO DA VERDADE

Continuação do post acima do Celso Vicenzi:



Nos jornais e telejornais, já ouvi de editores: “Tem imagem? Não, então a matéria não entra.” Ou a ela se destina um cantinho do jornal/telejornal. Conteúdo, relevância para a sociedade, exemplos esclarecedores do que está acontecendo? Tudo fica em segundo plano para dar passagem à sua excelência, a imagem, como se ela fosse a suprema revelação da verdade. Mas sabemos que ela pode ser tão manipuladora da verdade quanto qualquer texto panfletário. Para isso há a edição e, antes dela, a escolha mesmo de um fato. Quando e para onde eu aponto a minha câmera? O que dirá o meu texto? Num conflito entre traficantes e policiais, que tem a população das favelas como maiores vítimas, onde estou posicionado? Atrás dos policiais ou lá dentro da favela? Só o lugar, de onde acompanharei o desenrolar dos fatos já define muito. Quem são as minhas fontes? São sempre só as autoridades? Dá-se a palavra, em horário nobre, ao povo, como protagonista, ou ele será sempre um coadjuvante? Será sempre das autoridades ou dos intelectuais a versão final dos episódios? Que frases de cada personagem escolherei para narrar o que aconteceu e interpretar o sucedido? Escolhas não são isentas de conteúdo ideológico. Nem mesmo as palavras. Escrevo “invasão” ou “ocupação” do MST? Você é um trabalhador “multifuncional” ou será que está mesmo com uma sobrecarga de trabalho? O problema é que boa parte dos jornalistas “naturaliza” os conceitos como se fossem imparciais. Ao noticiar um fato, nenhuma neutralidade é possível. Pior ainda se o jornalista desconhecer isto. Quanto mais consciência política e ética o jornalista tiver, menos enganará a si e aos consumidores de suas notícias.

A mídia é hoje peça fundamental no tabuleiro do jogo de poder. Atualmente as empresas de comunicação têm participação em outros negócios que, no mínimo, a põe sob suspeita ao noticiar muitos eventos. Um exemplo emblemático: segundo Mauro Malin, no Observatório da Imprensa, a Folha de São Paulo é sócia, desde 1996, da Odebrech, do Unibanco e da americana Air Touch num projeto de telefonia celular, a famosa Banda B. Em 1994, este jornal publicou reportagens em que o nome da Odebrech aparece 244 vezes, sempre de modo negativo. Em 1996, com a sociedade já selada, a construtora é citada apenas 90 vezes e a imagem negativa em não mais do que 5% do total. Isso acontece com vários veículos de comunicação e empresas.

Costuma-se dizer que se as pessoas soubessem o que contém uma salsicha, talvez não comeriam. Exagero à parte, pode-se também dizer que se a população soubesse como se escolhem as notícias (e os jornalistas!), como são escritas, narradas e comentadas e a quais interesses servem, talvez essa credibilidade que aparece na pesquisa ficasse um tanto quanto abalada. Ou como brilhantemente definiu o sociólogo Boaventura de Sousa Santos: “Quem tem poder para difundir notícias, tem poder para manter segredos e difundir silêncios. Tem poder para decidir se o seu interesse é mais bem servido por notícias ou por silêncios.”

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A "BARCA" É FASHION

foto: elaine borges

A Biblioteca Barca dos Livros, da Sociedade Amantes da Leitura, com sede na Lagoa da Conceição, viveu hoje à tarde seu momento "fashion". Meninos e meninas, vestindo roupas da griffe Petit-Pavé, desfilaram no Donna Fashion DC, no Shopping Beiramar, com roupas inspiradas na Barca dos Livros. A homenagem da Petit-Pavé, mostrou "as parlendas - pequenos textos em verso e prosa - declamados na Barca dos Livros, e que estampam os forros em meio aos delicados poás".

A PEQUENA MODELO

foto: elaine borges

As criancinhas impressionaram pela "seriedade" e "profissionalismo".

No folder distribuido há a referência à Biblioteca Barca dos Livros: "A atividade especial acontece uma vez por mês, aos domingos, quando uma barca cheia de livros leva pais e filhos a um passeio lúdico e literário pelas água da Lagoa da Conceição".

CABEÇA,OLHO E CORAÇÃO


Mattisse na intimidade - foto: Henri Cartier-Bresson

Fotografar é colocar na mesma linha de mira, a cabeça, o olho e o coração. A frase é do Henri Cartier-Bresson, um dos mais importantes fotógrafos do século XX, e reproduzo aqui para registrar o Dia Internacional da Fotografia, ocorrido na quarta-feira, dia 19. No dia, não lembrei, mas recebi do Tarcísio Mattos, da Tempo Editorial, a belíssima foto (*) acima. Vai o meu abraço aos amigos fotógrafos, sem esquecer quem já foi mas deixou um legado: Olívio Lamas.
(*) A foto da Ilha do Campeche (Tempo Editorial) é do Milton Osteto.

TULIPA? NÃO, CICLAME

foto: elaine borges

Pensei ter em casa, no meu “jardim de inverno”, um vaso de tulipa. Errei. Essas belas flores são de ciclame (*) - cyclamen persicum - conhecida também como ciclame da Pérsia, ciclame de Alepo ou ciclâmen, como li no blog da Sonya. Originária das Ilhas Gregas e da região do Mar Mediterrâneo resiste bem em vasos de interiores. Disso eu tenho certeza. É a primeira vez que consigo manter por muito tempo um vaso de flores no meu apartamento. As flores ainda estão ali, bem próximas à janela, protegidas do vento. E o bom é que exalam um suave perfume.
(*) Obrigada Teca, pela correção.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

LINA x DILMA

"Não preciso de agenda para falar a verdade". Frase de Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal, dita hoje no seu depoimento à Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Foi sua resposta ao Presidente Lula. Em entrevista ontem, Lula disse que bastaria a ex-secretária apresentar sua agenda onde constasse o encontro com a ministra Dilma Rousseff e o caso estaria solucionado. No depoimento, Lina Vieira foi firme. Não vacilou mas não apresentou nenhum dado concreto sobre o encontro reservado com a ministra, no gabinete desta, no Planalto. Nesse encontro, de dez minutos, a ministra da Casa Civil teria pedido a ex-secretária da Receita Federal que a mesma agilisasse o processo contra o filho do Sarney. Encontro que a ministra nega. Mas fica a palavra de uma contra a outra. Sintomaticamente, a ministra hoje permaneceu recolhida e disse que não vai se manifestar.

Fica no ar a pergunta: "teria Dilma Rousseff mentido?" Se mentiu, que feio. Bastaria dizer a verdade. É isto que se espera de qualquer pessoa que ocupe cargo público. Ainda mais dela, candidata à Presidente da República.

domingo, 16 de agosto de 2009

TARDE DE DOMINGO

foto: elaine borges
Domingo ensolarado, calor à tarde, bom pra sair da toca e curtir o sol. Na Lagoa da Conceição, casais, senhoras, crianças... lá permaneceram, curtindo o bom tempo. Mas, a previsão é de que amanhã rajadas de vento soprarão por aqui, com fortes chuvas.

sábado, 15 de agosto de 2009

NAÇÃO WOODSTOCK


Reprodução dos LPs triplos da trilha sonora original do Woodstock

Woodstock foi uma cidade. Sim, foram três dias extraordinários de chuva e música. Não, não foi uma revolução. Foi uma reflexão em tecnicolor manchada de lama. Woodstock também fui eu, Joan Baez, a quadrada, a grávida de seis meses, mulher de um resistente ao alistamento, pregando sem cansar contra a guerra. Eu tinha meu lugar lá. Estávamos nos anos 60 e eu já era uma sobrevivente. Cantei no meio da noite, de pé, na frente dos residentes da cidade dourada que dormiam na lama e nos braços dos outros. Dei-lhes o que pude naquele momento. Eles aceitaram minhas canções. Foi um momento de humildade, apesar de tudo. Eu nunca tinha cantado para uma cidade antes.

Trecho da carta que Joan Baez escreveu para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas antes da exibição do documentário de Woodstock, em 2006.

A canção final do show de Joan foi de tirar o fôlego: sua versão a capela do clássico gospel “Swing Low, Sweet Chariot”. A doce voz de soprano suave como veludo e afiada como uma lâmina, atravessou os pingos de chuva do ar noturno e atingiu de maneira profunda e comovente os corações dos peregrinos cansados diante dela.


Havia a música. A idéia de rejeitar o resto do mundo e viver de maneira natural. Havia a cultura das drogas. A posição contra o governo, especificamente sua política para o Vietnã. E tudo se agrupou naquele momento. É interessante que chamem de Nação Woodstock porque era isso que todos queriam – estar separados, ter sua própria comunidade. E por três dias todos a tiveram. Quando olho para a segunda metade dos anos 1960, percebo que foi o único período em que ouvi falar a sério sobre o amor como uma força para combater a ambição, o ódio e a violência.

Martin Scorsese.


Não penso que Woodstock foi um “milagre” – algo que pode acontecer apenas uma vez. Nem penso que os que dele participaram estabeleceram uma tradição instantânea – uma maneira de fazer as coisas que instituiu um padrão para eventos futuros. Foi uma confirmação de que esta geração tem, e compreende que tem, sua própria identidade.
Ninguém sabe qual será o desdobramento: ainda é muito recente. Em resposta à sua mansidão, penso nas palavras “olhai os lírios do campo...” e espero que nós – e eles mesmos - possamos continuar a confiar na comunidade de sentimentos que fez tantos dizerem sobre aqueles três dia, “Foi lindo”.


Depoimento da antropóloga Margaret Mead à revista Red, em 1970.

Da lama, da fome e da sede, apesar da chuva e dos engarrafamentos do fim do mundo, para além das bad trips das drogas e da confusão extravagante, uma nova nação emergiu sob as luzes que lhe dava a mídia perplexa.

Da revista Rolling Stone, a bem mais sucedida publicação respeitável do rock.

...Mas o problema era que eu estava no palco e não sabia mais o que cantar, então olhei para cima e disse, “liberdade não é o que eles fazem a gente pensar que é, nós já temos. Tudo que devemos fazer é exercê-la, e é isso que estamos fazendo bem aqui”. Então comecei a tocar umas notas procurando alguma coisa e a palavra saiu, “freedom” (liberdade).


De Richie Havens, o primeiro a cantar.

Nenhum tema revelou mais o crescente abismo no país do que o Vietnã. Ao mesmo tempo em que esta geração estava abraçando sexo, drogas e rock’n roll, apreendia a suportar o choque e o trauma dos assassinatos, os distúrbios raciais e a brutalidade policial. Eram essas as nuvens que pairavam sobre Woodstock, e nada tinha a ver com o tempo.
Os hippies dividiam tudo que tinham – comida, salada de cenoura com passas, barracas, um baseado. Quatrocentos e cinqüenta mil, ou seja lá quantos estavam lá, era um organismo vivo de gente. Muitos viram a lama, as coisas feias. Eu só posso dar minha visão do que vi, e o que vi foi uma convergência verdadeiramente harmoniosa. Era o começo da revolução da conscientização em grande escala.

Santana, a grande revelação do Woodstock com sua música Soul Sacrifice.

Há ainda o desempenho antológico de Joe Cocker da música “With a Little Help from My Friends” de Lennon e McCartney e a versão de Jimmi Hendrix para “The Star-Spangled Banner”. Momentos que ficaram na história da música e também um dos eventos até hoje comentados, analisados, estudados, relembrados. Tudo aconteceu em três dias, em agosto de 1969. Há quarenta anos.Três dias memoráveis que fazem parte da história da música e, por que não, da história do século XX.

(Todos os depoimentos são do livro Woodstock – de Pete Fornatale – Editora Agir).

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

ANOITECENDO

foto: elaine borges
Florianópolis, ponte Hercílio Luz: 18h.12 min.

AGRESSÃO À PROFESSORA

A foto do Hermínio Nunes - publicada no seu blog - completa o meu comentário abaixo.

Diz o aviso colocado no portão do IE hoje: "Por motivo de AGRESSÃO a uma Professora não haverá aula na EDA nesta sexta-feira, dia 14/08/09. Os Professores."

TRISTES TEMPOS

Difícil não se indignar e, ao mesmo, sentir imensa tristeza ao ver o rosto da professora do Instituto de Educação, de Florianópolis, cheio de marcas dos tapas e socos que recebeu de uma mãe descontrolada. No dia anterior, sua filha, agredida por colegas, foi defendida pela professora. Hoje, a mãe, totalmente descontrolada, foi ao IE não para conversar, ouvir a professora, saber o que havia acontecido. A mãe foi para agredir a professora. Cena de violência testemunhada por crianças que lá estudam.

Cena triste, sim. O local, uma escola, seria o último a registrar tanta violência, ira, raiva. Não de alunos em brigas hoje quase comuns nos pátios das escolas. Mas de uma mãe agredindo uma educadora.

Tristes tempos.

Há quem diga que nosso país está perdendo o sentido da ética, do respeito. E apontam que o exemplo da má educação, da falta de ética, vem de cima. Se antes o "toma lá dá cá", os acordos, eram feitos às escuras, nos bastidores, em salas fechadas, hoje não mais. Se não há respeito, grandeza, nobres gestos entre aqueles que nos governam; se alguns acham que seus aliados não são "comuns" e tem uma "biografia" (e que biografia!) a zelar, como exigir respeito, educação, ética, nas escolas? Se os debates em uma das mais nobres Casas do Legislativo, o Senado, são tão baixos; se um senador, ex-presidente (cassado, graças a Deus) manda um outro "nobre colega" que "engula" o que estava dizendo da tribuna e ainda fazer o "uso que bem entender" como exigir mais educação das pessoas comuns?

Há quem diga que estamos vivendo momentos tão medíocres e pequenos, através do comportamento dos políticos; momentos repletos de favorecimentos, corrupção, jogo de interesses que nossa democracia ficou mais frágil. Como uma renda puída que, com o passar do tempo, apresenta cada vez mais buracos.

As cenas de agressão e violência em ambientes onde a meta final é a educação, portanto, não são de surpreender. Há escolas que exigem a presença da polícia. E Florianópolis, infelizmente, agora também faz parte dessa lista onde a violência já chegou às escolas. E, nesse caso, a agressora foi a mãe de uma aluna.

O CANTOR DA VOZ DOURADA

"I was born like this, I had no choice/I was born with the gift of golden voice" ("Eu nasci assim, eu não tive escolha/ Eu nasci com o dom de uma voz dourada"). Foi ouvindo essa música que entrei em casa, hoje à tarde. Do seu cantinho, no sofá, a Baby demonstrava mais uma vez que um dos seus prazeres é ficar ali, recolhida e hoje, em especial, ouvindo Leonard Cohen e sua belíssima Tower of Songs. A música tomava conta da sala e lá, da televisão, vinha o som e a imagem de um documentário - Leonard Cohen, I'm your Man, dirigido por Lian Lunson. O documentário é de 2005. Belíssimo. Rufus Wainwright canta maravilhosamente bem a tocante Hallelujah.

Quando saio, gosto de deixar minha gatinha ouvindo música. Já li em algum lugar que animais - cães e gatos, em especial - ficam mais tranquilos quando ouvem música. Eu tenho certeza. E hoje vimos, juntas, o documentário especial com Bono, Rufus, Nick Cave e outros cantando algumas das tantas belas músicas do poeta canadense Leonard Cohen, o cantor que tem o "dom da voz dourada".

terça-feira, 4 de agosto de 2009

À ESPERA DO BOM TEMPO


fotos: elaine borges

Temos – a Baby e eu - mantido uma convivência harmoniosa nas últimas semanas. Talvez devido a essa convivência mais intensa, a minha amiguinha de quatro patas às vezes se excede nas manifestações de carinho: ronrona alto, pressiona as patinhas no meu corpo e, quase sempre, exige – dando um leve toque com sua pata na minha mão - que eu faça um suave carinho na sua cabecinha. Mas há excessos, uma sutil manifestação de posse. Nem sempre o fato de me ver por aqui, teclando, de costas para ela, o agrada. Nesse momento, ela pula nas minhas pernas e quase que me obriga a voltar a sentar na poltrona, olhar a televisão, ou ler. Então, volta a se enroscar no seu cantinho no sofá. Há outras manifestações que me intrigam: ela me cerca, mia baixinho, se aproxima, me rodeia, como um cão apascentando o gado. E só se aquieta quando volto a sentar na poltrona.
Nos últimos dois dias ela achou outro cantinho pra ficar mais perto de mim: o meu toca-discos (sim, já disse, ainda curto meus vinis). É claro que, como sabem, cá em casa quem manda é ela, ontem não consegui ouvir minhas músicas prediletas (comprei, lá na Praça XV, o LP “Time Further Out – Miro Reflections – do genial The Dave Brubeck Quartet”). Eu apenas temi que ela quebrasse a tampa do toca-discos: a Baby é enorme, pesa quase cinco quilos...
Na sua vidinha diária, há o momento da janela: lá ela fica olhando o mundo do décimo andar. Ontem também curtiu meu “jardim de inverno” (meus vasos de lavanda e de tulipa) dando mais vida ao meu tranqüilo recanto onde, nos últimos dias, tenho permanecido, fugindo do frio, do vento e da chuva. E em silenciosos diálogos com a Baby. Ela também tem me dito que está esperando temperaturas mais elevadas pois é muito friorenta. Embora saiba que, com bom tempo, pernas pra que te quero...

BOA NOTÍCIA

As notícias são desencontradas: uma médica informou ontem, extra-oficialmente, que um homem morreu de gripe A em Cachoeira do Bom Jesus, região norte de Florianópolis. Esse caso não consta na lista oficial publicada segunda-feira pela Secretaria da Saúde de Santa Catarina. Os dados oficiais da Diretoria de Vigilância Epidemiológica são de que três pessoas morreram da gripe A em Santa Catarina: uma em Tubarão e duas em Concórdia. À noite o Ministério da Saúde informou que 129 pessoas morreram vítimas da gripe A no Brasil, a maioria em São Paulo (50), Rio Grande do Sul (29) e Paraná (25). Em Santa Catarina, Chapecó decretou estado de emergência e montou uma área especial apenas para atender os que apresentam sintomas da gripe. A boa notícia é que até o final do ano um milhão de vacinas serão compradas do Laboratório Pasteur e no primeiro trimestre de 2010 o Instituto Butantã receberá material para fabricar mais 17 milhões de doses da vacina contra a gripe A.

sábado, 1 de agosto de 2009

"A LAGOA ESTÁ MORRENDO"

foto: elaine borges

Há belezas na Lagoa da Conceição, mas há também um lado muito lamentável: esgotos a céu aberto, como este que fotografei na quinta-feira. A placa de advertência dizia: "A Lagoa está morrendo".

A GRIPE A E AS MÁSCARAS

Santa Catarina está entre os seis Estados mais atingidos pela Influenza A. Os demais são Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais. Estes seis Estados começaram a receber desde ontem os primeiros 150 mil kits de medicamentos (tamiflu) que foram produzidos no Brasil. O site da Secretaria da Saúde de Santa Catarina, no entanto, continua desatualizado. Os últimos números relativos à gripe divulgados pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (do dia 28) informavam que estavam aguardando “o resultado laboratorial dos exames de nove pessoas que faleceram em Santa Catarina com suspeita de gripe A. Trata-se de uma mulher de 22 anos e de um homem de 34 anos de Tubarão; de um homem de 53 anos e de uma mulher de 29 anos de Concórdia; de uma mulher de 37 anos de Capinzal; de um homem de 18 anos de Blumenau; de um homem de 31 anos de Florianópolis; de um homem de 44 anos de São Bento do Sul; e de um homem de 44 anos de Lages”. O boletim informava ainda que “Santa Catarina conta com 64 pessoas contaminadas pelo vírus, 351 casos suspeitos e 162 casos descartados”.
Se nosso Estado está entre os seis mais atingidos pela gripe A causa estranheza o fato de que essa informação só tenha sido divulgada pela mídia nacional. Há na mídia local detalhadas informações sobre como evitar o contágio, tais como não freqüentar locais fechados, lavar as mãos com freqüência, usar lenços ao espirrar... Mas há uma orientação que pouco está sendo seguida em Florianópolis: a freqüência aos shoppings não diminuiu. Ao contrário, ontem à tarde os shoppings estavam lotados. Claro, com chuva e com as crianças ainda em férias escolares, o que fazer? Ir às compras, aproveitar as liquidações e, se possível, tentar esquecer que há uma pandemia de gripe por aqui. Resta-nos esperar que os termômetros voltem a marcar temperaturas mais elevadas. Eu, por enquanto, tento evitar aglomerações. “Saia com máscara, no teu caso é mais seguro”, sugeriu minha oculista (que é de origem japonesa). Mas, sinceramente, ficaria bem encabulada de circular por aí com máscara cirúrgica. É muito estranho. Infelizmente não faz parte ainda da nossa cultura esse hábito, tão comum no Japão, como disse minha oculista.